Armindo Antônio Ranzolin

Nascido em Caxias do Sul (Serra Gaúcha) no dia 8 de dezembro de 1937, com 2 anos Ranzolin migrou com a família para Lages (Serra Catarinense), onde a vocação para os microfones ficaria evidente na narração de partidas de futebol-de-botão com o irmão Ivan e os amigos de infância. A paixão pelo futebol ainda teria um breve capítulo como lateral-direito do clube Palmeirinhas, do qual foi também fundador, técnico e dirigente.

Mas o talento para a comunicação falaria mais alto. Aos 16 anos, escreveu uma coluna de crônicas sobre o campeonato amador para o Correio Lageano e, com 18, foi convidado a apresentar uma resenha esportiva diária de 30 minutos na recém-inaugurada Rádio Diário da Manhã. Logo passou a atuar como locutor comercial e como apresentador de programa regionalista, além de animar um show dominical de calouros no cinema da cidade.

Após estrear como locutor esportivo em um duelo entre times locais no dia 18 de março de 1956, seguiu no ano seguinte para Porto Alegre, onde se formaria em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1959, foi aprovado em teste na Rádio Guaíba para locutor comercial e redator. No mesmo ano, acabou contratado pela concorrente Difusora como repórter e, em seguida, principal narrador esportivo.

O capítulo seguinte teve início em 1964 como gerente de esportes e, depois, como diretor artístico da Rádio Farroupilha. Em 1969, após atuar como superintendente da TV Piratini, voltou à Guaíba para integrar o cast de narradores coestrelado por ícones como Pedro Carneiro Pereira e Milton Jung, permanecendo na emissora até 1984, como gerente de Esportes e principal locutor, quando trocou a rua Caldas Júnior pela avenida Ipiranga para reforçar o elenco da Rádio Gaúcha, vindo a se tornar o diretor do sistema de rádios do Grupo RBS.

Coberturas históricas e a preocupação com o ser humano

Na carreira de locutor esportivo, pela qual é até hoje mais lembrado, Ranzolin eletrizou os ouvintes em partidas que mobilizaram milhões de torcedores. Desde o seu primeiro Gre-Nal diante de um microfone, a serviço da Rádio Difusora em 1961, foram ao menos 140 clássicos e confrontos que projetaram os dois principais clubes gaúchos para muito além das fronteiras do País.

A lista inclui o tricampeonato nacional colorado (1975, 1976 e 1979) e as conquistas tricolores do primeiro Brasileirão (1981), Copa Libertadores e Mundial (1983), dentre outros feitos. Testemunhou, ainda, a ascensão de seus conterrâneos Caxias e Juventude, bem como seis Copas do Mundo entre 1974 e 1994. Isso, sem contar eventos de outros esportes, incluindo corridas das antigas Carreteras (de Porto Alegre ao litoral gaúcho), de Fórmula 1 e da Maratona de Porto Alegre, pela qual se empenhou para torná-la uma das principais do Brasil e do mundo, cujo troféu de campeão hoje leva o seu nome.

Como apresentador, comandou com profissionalismo a cobertura de acontecimentos históricos. A relação vai desde as eleições no País nos anos 1960, passando pela morte de Pedro Carneiro Pereira no autódromo de Tarumã (1973) e o assassinato de José Antônio Daudt (1988), ambos amigos e colegas de rádio, aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Boa parte dos fatos reportados quando Armindo Antônio Ranzolin estava à frente do programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.

Ranzolin foi um dos grandes dirigentes do rádio gaúcho. Sempre teve muita habilidade em descobrir e revelar talentos, formar e comandar equipes, desenvolver programas, conquistar patrocinadores e gerir grandes coberturas. Na Rádio Gaúcha, criou a Rede Gaúcha SAT, um grupo de mais de cem emissoras do Rio Grande do Sul e de outros estados e a Rede Conesur, formada por rádios da Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, que retransmitiam a programação da Gaúcha. Com ele na direção, a Rádio Gaúcha tornou-se campeã de audiência e conquistou prêmios no Festival Internacional de Rádio de Nova Iorque e o Top de Marketing em São Paulo, projetando a emissora nacional e internacionalmente. Por iniciativa dele, foi idealizado o Troféu Guri, que hoje é entregue pela RBS a personalidades na Expointer.

Ainda como executivo, ocupou a vice-presidência de Rádio (1974 a 1986) da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT). Ganhou diversos prêmios, comendas e títulos honoríficos nacionais e regionais por seu trabalho no rádio e em prol da comunidade gaúcha. Entre eles, Melhor Narrador Esportivo do estado, Cidadão Honorário de Porto Alegre, Mérito Militar, Mérito Judiciário do Trabalho, Troféu Negrinho do Pastoreio, Bolas de Ouro, Troféu Gandula e Troféu Guri.

Também se envolveu com campanhas sociais na mídia e fora dela. É autor da frase “Diga em casa que você é um doador”, utilizada pelo Ministério da Saúde para aumentar o número de órgãos doados para transplantes. E foi um dos incentivadores do jogo dos transplantados, junto com o Dr. Fernando Lucchese, evento marcante de incentivo a doação de orgãos. 

Armindo Antônio Ranzolin afastou-se do rádio aos poucos. O último jogo narrado foi Grêmio e Ajax, em 1995, pelo Campeonato Mundial do Japão. Depois, saiu da direção da Rádio Gaúcha, seguindo no comando do Gaúcha Atualidade até 2006 quando pediu a aposentadoria, em razão dos primeiros sinais do mal de Alzheimer. Em 17 de agosto de 2022, aos 84 anos, o narrador dos gaúchos faleceu em Porto Alegre. Ele deixou a esposa Yara, os filhos Ricardo e Cristina e os netos Henrique, Manoela e Antônia.